quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Nova forma de controle


Atualmente, muitas empresas defendem a valorização dos funcionários, garantindo colocá-los como centro do foco de gestão. No entanto, esse movimento pode trazer efeitos contrários à equipe, transformando “recursos humanos” em “capital humano” - o que deposita ainda mais responsabilidade sobre os colaboradores e agrega mais riscos à suas decisões.

Segundo Daniel Pereira Andrade, professor da FGV–EAESP, ao considerar-se como capital humano, o trabalhador deixa de se identificar com sua classe e passa a ver os outros trabalhadores como empresas concorrentes, não como companheiros de luta. A resistência coletiva contra formas insidiosas de exploração e perda de direitos se dissolve em um individualismo extremado, que busca apenas a vantagem pessoal.

O professor compara este comportamento ao de um atleta de alto nível, que precisa sempre superar as suas expectativas – e, ao contrário do que se pensa, muitos desses atletas colocam sua saúde em risco, sofrendo repetidas lesões físicas e recorrendo a artifícios externos, como dopping, para atingirem suas metas rigorosas. “Danos análogos ocorrem na saúde mental dos trabalhadores, que são levados ao extremo, e tampouco são raros os casos de recorrência a estimulantes mentais, físicos e mesmo a remédios psiquiátricos para duplicar as suas forças e se adaptar a exigências desumanas”, explica Andrade.

Esse modelo de gestão transforma as pessoas em empresas, exercendo assim, uma nova forma de controle e poder - a vida do funcionário torna-se assim duplamente administrada. “Precisamos, ao contrário, contestar o discurso administrativo, impor limites à sua lógica e abrir espaço para outros valores e sentidos. Somente assim, é possível constituir um mundo de fato mais humano”, acredita o professor.

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